O último passo foi algo puro e intuitivo, nem eu próprio consigo explicar. A razão a dizer que não, mas o corpo avançou em diferente direcção. O desejo foi tão forte que não me deixou parar ! Agora flutuo nos braços de um jovem, não foi ele que me trouxe até aqui, e nem o medo de me arrepender me impediu de voltar, quero apenas viver este momento que não será nada mais que isso mesmo … um breve momento ao lado de alguém que não têm nome e que nunca o terá. O desejo, a paixão e o sexo podem fazer parte d’um caminho para chegar ao amor, muitas vezes levam-nos a esse destino, mas não posso, principalmente não quero avançar nesta direcção. Tão próximo, tão intimo e continua a ser um estranho. Ele é o que eu imagino, mas as pessoas nunca são o que imaginamos e, é justamente isso que me faz tê-lo junto a mim, imaginá-lo de uma maneira diferente do que ele realmente é. Sei que o encontro dos nossos corpos será breve, entrego-me sem pudor, sem medo, sem pressa de antecipar o fim desta loucura, … , agora estamos juntos … mas até quando ? Até que a Vida, essa, nos separe! Enquanto isso vou alimentando a ideia de que o mundo parou de girar em torna da sua própria órbita e do Sol. Novamente a sensação do abismo e uma leve brisa, que trespassa o meu corpo. O tempo, agora, parece estar com pressa de passar, começo a sentir saudades das horas, mas não me resta mais nada, senão aceitar a proximidade do fim. Sinto-me como se o ar me faltasse. Talvez seja uma sensação de dor ou de alívio por aquele corpo. Cheguei ao fim sem arrependimento e ao mesmo tempo sem o desejo de voltar a fazê-lo. Quando mentimos procuramos uma solução, desesperadamente uma solução, para o nosso erro, mas o tempo esse voa, a rapidez é fundamental para não sermos descobertos, acabamos por ficar sem tempo para nos arrependermos. Agora o perigo espreita, bate insistentemente à minha porta, Mas agora, mais do que nunca, não posso permitir, nem quero deixar, que avance para dentro do meu seio. Quando escondemos uma parte da verdade, tudo o que dizemos está mais próximo da linhagem da mentira. O desejo levou-me à loucura, ao encontro da falésia, há muito tempo que não consigo dormir, uma imagem recorrente insiste-me em afastar do sono, não há luz e tudo tende para o negrume. Já não me reconheço, aquele corpo que não é o meu, mas lembro-me dele. Aquele que agora é um corpo sem movimento, para sempre inerte, para sempre uma memória !
A Vida toda ela será um estimulo e o seguir do instinto.
Redigido originalmente em Agosto 2013