Os Julgamentos …

Façamos hoje a seguinte interrogação, de que maneira influenciam os nossos preceitos e conceitos o modo como vivência-mos a experiência com a sociedade que nos rodeia ? Será esta considerada uma pergunta descabida para a maior parte das pessoas, faço eu a interrogação ?

Com a evolução do mundo moderno e o acesso à extrema massificação de informação começamos na minha opinião a bipolarizar a sociedade, vemos o que queremos ver, comentamos o que é favorável à opinião dos outros e não da nossa própria identidade, fazemos e construí-mos a imagem à semelhança de um outro alguém e não de nós próprios, em súmula as pessoas deixaram de pensar por elas próprias, parece estranho estar a dizer isto, mas não será isto a mais simples e pura realidade que vivemos nos dias de hoje.

Estamos tão focados em ser outros que esquecemos como somos nós próprios, a cada dia que passa cada vez mais sinto que vivo numa rica e prazerosa nação, mas por analogia a sociedade que habita nela cada vez está mais pobre no seu cumulo da identidade e de espírito, e aqui não falo em factor religião falo no sector humano, será que esta comunidade está tendencialmente a evoluir ou a regredir, onde está o foco central, o cerne do neutrão evolutivo ?

Tantas questões, tantas teorias filosóficas, tanta sabedoria popular, tantos ditos e frases, mas será que realmente já aprendemos a lidar com a diferença, daqueles que são diferentes, daqueles aos quais a sociedade, nãos as leis, impõe um censura para que possam circular nos mesmos caminhos que os tantos outros? Na minha modesta e clara convicção, respondo com um voto negativo, NÃO, não o comum dos mortais ainda não aprendeu a viver com gente da mesma espécie, a super-evoluida raça humana, continuamos a ser capazes das maiores atrocidades cívicas e sociais, e como se isso não bastasse fazê-mo-lo repetitivamente, hora após hora, dia após dia, ano após ano, até que chega um dia em que alguém farto de suportar o sofrimento infligido pela sociedade diz um:

“basta”

o problema é que muitas vezes estes “bastas” não são apenas e só palavras, passam a actos e acções que poderão ser irremediáveis, mas claro são pessoas diferentes, quem é que realmente se imporá, se um destes seres colocar uma corda ao pescoço e decidir atirar-se da ponte com a outra ponta amarra ao poste de sustentação da mesma, a imagem gráfica é extrema, mas é a cruel realidade que muitos vivem e não falo em casos concretos, falo no encalço dos noticiários espalhados por esse mundo fora, mas volto a referir a questão, quem é que realmente se importará ? Certamente nas primeiras vinte e quatro horas, serão dezenas ou centenas ou milhares os que fingirão o pesaroso sofrimento que vivem as famílias daqueles que decidem por termo à sua própria Vida, passado uma semana as pessoas rotulam o nome desse indivíduo num fantástico livro a que podemos dar o nome “Livro dos esquecidos” e acabam por censurar um nome, um corpo, uma imagem, um odor, uma gargalhada ou uma acção, mas por certo nunca esqueceram o peso que teve um certo hedonismo num determinado momento, em que para se sair bem perante aqueles que o rodeia, para a figura do status social, houve a necessidade de superiorizar perante aquele alguém que nunca teve um nome, um rosto, um odor ou uma voz.

Por outro lado existem aqueles que nunca dizem “basta” e que atrozmente guardam em si próprios na sua rica colecção dezenas de milhares de frases de impropérios ditos, falados ou escritos em determinadas situações ou momentos, até podem esquecer por alguns anos que tudo aquilo passou, mas mais tarde ou mais cedo as conexões neurológicas que ficaram interrompidas serão reactivadas e nesse dia, tudo será tão fresco quanto a tinta que o pincel esbate sobre uma parede cimentada apenas e só com a base do primário, será tal e qual como a pintura “piano” aplicada pela Rolls Royce nas suas viaturas, será um espelho vivo, será quase como viajar numa máquina do tempo, mas numa só via. Mas quando este momento acontece apenas e só acontece uma de duas coisas, ou reside a petrificação dos antigos tempos ou gerará uma revolta de impassividade contra aqueles que cometeram tais actos. Existiram e existem tantos grande pensadores que afirmam o simples culto do “Carpe Diem” mas sejamos realistas alguma vez será possível aplicar tal incitamento ou ensinamento na Vida de alguém nos dias de hoje, a Vida não é a demonstração de todas as atitudes que praticaste no passado, é apenas e só uma solução aos impulsos neurológicos que deténs naquele momento e tal assim o é que para prová-lo basta encerrar os olhos e deixar os inconsciente impulsos neurosensoriais activarem por si só e quando os abrires horas mais tardes depois de dormir, terás vivido algo complemente irreal em termos físicos; por outro lado a personalidade que detemos será sempre uma construção da realidade que nos rodeia em torno dos mais diversos momentos da Vida, caberá ao indivíduo ser o seu próprio herói da sua própria história e para o ser por vezes terá que derrotar aqueles que são os vilões da sua própria história.

Toda e qualquer espécie de actos criminosos contra o indivíduo seja em que altura for, é humanamente reprovável, mas socialmente aceite por vezes, dependendo dos tipos e das situações e das idades em que tal acontece, mas por vezes a vítima torna-se réu, mas que raio estou para aqui eu a confundir, estarei assim tão próximo ou tão longe da verdade, estarei mais perto do que aquilo que muitos julgam saber; por vezes e em muitos casos a instrução de processos ou acusações a vítimas de violência é mais frequente do que aquilo que se julga saber na opinião pública, mas então não deverias ser estes os protegidos, em razões éticas puras deveriam sim ser estes réus sim os queixosos, mas quase sempre a entidade que decide faz sempre o juízo em favor da vítima que outrora pela calado fora o agressor, e nas recorrências do trânsitos em julgados desta vez o réu vê a sua pena agravada por demonstrar “raiva” ou “frieza” ou qualquer outro sentimento ligado com estes, mas a quando das suas participações outrora alguém se esquecera de resolver estas queixas, e aqui já é tarde para resolver estas questões ou dar alguma protecção.

Todos os santos momentos andamos a fazer comentários souber este ou sobre aquela coisa, pessoa ou objecto, e por vezes nem nos apercebemos do quão essa palavras indirectas têm peso e impõe uma pressão social sobre os indivíduos por vezes apenas e só para ficarmos bem na fotografia, nas faculdades muitas vezes comentamos depreciativamente a maneira como uma determinado professor está a dar uma aula, mas por contra-posição são raras as vezes que elogiamos essas pessoas por uma extraordinária classe que tenham dado, ai já justificamos com um “é o seu dever”, e quem diz um docente diz um aluno ou uma outra qualquer pessoa, somos mais fortes a depreciar os fracassos do que a elogiar os sucessos, a justa contraposição das relações de amizade, aliás a antítese comparando com a amizade, nesta sociedade de falsos amigos, nas vitórias todos estão lá para comemorar, mas nas desgraças são raros aqueles que ali estão ao lado para ajudar, pois claro ajudar dá trabalho e a sociedade hoje é feita de preguiça, desculpem-me se disse a verdade das maiorias.

Mas afinal não deverias ser todos indiferentes às diferenças, não é nisto que a sociedade batalha dia após dias, não é nisto que se baseiam os princípios da liberdade, da democracia, das bandeiras da escolha e da diferença, ou de um dia para o outro a velha máxima “somos todos iguais mas todos diferentes” deixou de fazer sentido ?

Falamos tanto que somos capazes de aceitar as diferenças dos outros, tantos as físicas, como as psíquicas como as escolhas que as pessoas fazem e a decisões que tomam, mas depois tomamos a medida mais simples que é a da criminalização, deverei eu relembrar que o aborto foi despenalizado em Portugal à bem pouco tempo, deverei eu recordar que até à bem pouco tempo aqueles cujo a orientação sexual é diferente da maioria não podiam a assinar um determinado tipo de contrato civil, cujo vulgarmente chamamos de Casamento, deverei eu recordar que a penalização do crime de “bullying” em Portugal não é especificamente criminalizado, ou que na minha pátria as pessoas em estado de doença terminal não possam ter a opção de morrer dignamente e medicamente assistida sem que quem ajude possa ser responsabilizado criminalmente na qualidade de homicídio qualificado ou negligente, então façamos uma sumula rápida, o aborto que é algo que diz à própria mulher não podia ser realizado em território português porque alguém, legislador, entendia que todas as mulheres deveriam fazer a gestação, mesmo por vezes sem terem condições para dar um futuro vindouro a essa crianças, resta dizer que foram centenas as mulheres que ao o fazerem ilegalmente deixaram de poder ser mães; a homossexualidade outrora em tempos não muito distantes no Reino Unido chegou a ser penalizada com pena de prisão, aqui apenas não era reconhecida, mas faço apenas e só uma questão, não deverão as pessoas ter todas acesso à felicidade da maneira que entenderem, não acredito que qualquer ser humano possa impedir por lei que outro seu par seja infeliz só porque é diferente neste aspecto, todas as pessoas deverão ser merecedoras da felicidade de igual maneira, apenas e só amando o próximo; já no caso dos maus tratos continuados, não deveríamos isto sim criminalizar e punir nos tempos certos os réus desta prática criminosa, o legislador não deveria estar mais preocupado com estas medidas doa que em criminalizar o aborto ou a prostituição, fica a interrogação mais uma vez, e por fim porque raio é que o Estado têm direito sobre a minha decisão em querer viver ou morrer condignamente, não será isto uma extrema hipocrisia quando o próprio ministério da saúde deixa morrer os seus cidadãos por falta de aplicabilidade de verbas neste sector.

Realmente esta sociedade anda completamente virada do avesso, terá ela solução à vista?

Deixo uma última questão reflectiva no ar, valerá a pena ser preconceituoso, valerá a pena injuriar e tantas vezes dizer impropérios contra alguém por causa da sua aparência, da sua personalidade, da sua raça, da sua cor, da sua orientação ou de qualquer outra pura forma de estar na Vida ? Será que queres ser um cúmplice de um assassinato ou de um suicídio que não passará de um homicídio qualificado sem responsáveis, por alguém que decidiu desistir deste mundo ? Fica a questão para reflexão !

 

E uma vez que falámos hoje aqui do tema da violência, decidi deixar o video da única campanha televisiva que existiu em Portugal sobre o “bullying” até aos dias de hoje, patrocinada pelo Portal Igualdade

Até breve …

“A Vida é feita de julgamentos tácitos, mas quem somos nós para julgar outro par igual a nós próprios, seres humanos!”