O amor não olha a deficiências ou estigmas …

Faz uns meses, que enquanto tomava um café numa esplanada algures em Portugal tomei contacto com a história que aqui irei relatar nas próximas linhas.

Será o amor realmente cego ?

Ouvimos muitas vezes dizer que o amor não escolhe idades, que não escolhe entre raças e que acima de tudo não escolhe a perfeição. Pois bem achei uma história muito curiosa e tive oportunidade de a aprofundar com os dois “actores” principais desse romance da Vida real.

Poderia descreve-la em poucas palavras como um romance Shakespeariano ou uma história de príncipes e princesas da produtora de Wall Disney, mas não a história é toda ela bem real e passada aqui neste cantinho à beira mar plantado.

António é um rapaz jovem e esbelto na casa dos vinte e sete anos, com um emprego estável na área da engenharia e projecção de infra-estruturas de comunicação, e com um olhar de profunda paixão pela sua pessoa amada faz sorrir quem passa nunca deixando que nada interfira na sua relação que ultrapassa todos os limites da paixão e do altruísmo diz ele num tom meio sério “se sou o que sou hoje e se luto por ser feliz é porque tenho o prazer de acordar todos os dias ao lado do amor da minha Vida, e tomar o pequeno almoço a olhar para o rosto de alguém me ama de igual forma não é uma obrigação é um autêntico prazer que faz com que tempo esse seja relativo e aumentado …”, o seu sorriso é contagiante em todos os níveis. António é também um homem de rotinas, confessa, sabe o nome de quase todas as pessoas que encontra na rua e no escritório e o mais engraçado diz “é que as pessoas raramente sabem o meu nome, mas isso não me importa apenas quero que conheçam o meu rosto e que tenham a oportunidade de ser felizes como eu tenho a minha …”. António quando fala da sua “alma gémea”, como afirma, os seus olhos ficam mais que radiantes e brilhantes do amor profundo que sente por esse tal alguém. E por esta altura já se perguntam, mas a final quem é esse tal alguém?

Este alguém que faz brilhar os olhos de António e que faz com que parte da sua rotina sejam exclusivamente dedicados a ele é,  Tiago um jovem de vinte e cinco anos, também com um emprego estável como chefe de operações logísticas e coordenação de circulação, com uma aparência complemente normal, mas com uma particularidade que afecta cerca de um e meio por cento da população portuguesa, Tiago sofre de cegueira total, vive no escuro desde que nasceu. No entanto Tiago não esconde também ele o amor que tem por António e diz que os gestos de ternura de António são tudo o que têm de mais rico na Vida e que o complementam dia após dia e reitera “posso nunca ter visto a cor dos seus olhos, mas conheço o seu rosto e o mais importante de tudo consegui chegar ao sitio mais profundo do coração do António e hoje sei que grande parte dos sorrisos do António têm um pouco culpa minha …” por contra ponto o António rapidamente reagia e dizia ” não sejas tão convencido cromo … tu tens um problema e sabes bem qual é ! É que estou perdidamente apaixonado por ti.” e sorria desalmadamente, mas passado uns segundos dizia ele em tom de sussurro “o que ele diz é completamente verdade …”.

A conversa durou várias horas e a cada momento que passava ia verificando que de facto o amor não escolhe idades, não escolhe a raça, não escolhe a perfeição ou a deficiência, de facto o amor é invisual em todos estes aspectos, porque como diz o António “o simples facto de poder prolongar cada segundo ao lado da pessoa que amo, não há dinheiro que pague tudo isto … a felicidade importa-me mais do que ter uns quantos milhares na conta bancária” e dizia “no principio foi complicado, porque as pessoas não compreendiam o porquê de eu ter decidido dar este passo e conhecer alguém diferente por fora, mas extraordinário por dentro, confesso que desfiz amizades que tinham muitos anos porque as pessoas não quiseram aceitar a realidade, mas não me arrependo um segundo daquilo que fiz dado que hoje estou com a pessoa que realmente amo e que sei que estará ao meu lado, talvez para o resto da Vida …” e continuava afirmando que a sociedade diz que é aberta ao multiculturalismo e às diferenças dos outros, mas que o simples facto de pessoas como eles andarem na rua de mãos dadas ou de trocarem carinhos em plena via pública suscita alguma curiosidade nas pessoas porque não é uma coisa que veem todos os dias afirmava ele. Tiago um pouco mais recatado mas em tom de brincadeira dizia “por mim podem olhar com toda a vontade porque já mais notarei as suas reacções visuais, mas quando oiço os sussurros apercebo-me que as pessoa raramente comentam pela negativa, somos um casal como tantos outros que existem por este país e mundo a fora”, António reforçava com a ideia “não queremos dar nas vistas ou ser estrelas, queremos apenas passear pelas ruas como faz toda a gente, e nós como não somos diferentes fazemos isso na boa !”.

A uma certa altura perguntei-lhes qual tinha sido a coisa mais estranha que tinham feito juntos e novamente as gargalhadas vieram ao de cima, o António confessava que nos primeiros tempos havia coisas que era sua rotina mas que com o Tiago tudo era uma nova experiência e dizia ele “um dia tínhamos acabado de jantar num restaurante e eu dei a ideia de irmos ao cinema e imediatamente a seguir pedi desculpa ao Tiago como se estivesse a fazer algo de errado ao que ele me respondeu que sim que deveria-mos ir, e fomos, confesso que nunca tinha tido tal experiência de ir narrando em voz baixa ao ouvido de alguém tudo aquilo que via na tela, certo é que gostámos tanto da experiência que de vez enquanto lá vamos nós ao cinema ver e ouvir um filme”, já o Tiago diz que não consegue precisar uma ou várias histórias estranhas que tenha feito junto com o António porque diz que todo aquilo que passam juntos é único e com um sabor autêntico e sempre novo, mas afirma que o que mais gosta de fazer é ir para a beira mar ou para a foz do rio e ouvir as ondas ou o som da água agarrado ao seu companheiro, diz que pode parecer ridículo mas é o que os mantém unidos e fortes para alcançar dia após dia.

Ao final de algumas horas de conversa fiquei com uma ideia genuína do que pode ser um amor pelo próximo, genuíno e livre de qualquer preconceito, a final são duas pessoas que se amam num nível que talvez muitos de nós desconheçamos que existe, caso para deixar a pergunta no ar:

“Não será este um exemplo a seguir no que toca ao amor, apaixonar-mo-nos por quem sentimos algo muito especial e dedicar parte da nossa Vida sem olhar a preconceitos ou estigmas que só destroem o que de melhor existe na sociedade? que é a felicidade!”

Por questões de privacidade das pessoas intervenientes nesta história, os nomes são fictícios e algumas informações foram adulteradas de modo a que não afectasse o conteúdo da história. Toda a semelhança com algum caso real é mera coincidência factual, esta é uma obra ficcional inspirada em casos reais.