Antes de arrancar com mais um texto, importa fazer aqui um parêntesis e explicá-lo em duas breves notas. A primeira nota que devo fazer é que este texto foi originalmente rascunhado e re-rascunhado e escrito ao longo destes dois meses nos mais diversos blocos de apontamentos que possuo, talvez o segredo de um bom texto esteja na inspiração momentânea influência pelas memórias de um passado recente bem ou mal vivido, fazendo isto já pendência a um lado mais privado da Vida de cada um, daqueles que escrevem para o público incógnito ou que escrevem para eles próprios até mesmo só para os seus pares, mas bem isto já são outras discussões. Acredito e ajo em fé, que ainda existirão por ai algures, um grupo talvez pequeno, talvez grande, de gentes que escrevam ainda a punho nos papiros, e que depois pratiquem todo um ritual que, por estas alturas já estará a entrar em vias de extinção, chamado de envelopar e enviar a um destinatário, mas claro para tal facto existir múltiplos factores a eles agregados, mas isto já são outras histórias talvez um dia desenvolva um texto com estes aspectos. A segunda nota que quero deixar, dentro deste tal parêntesis é que no passado dia um do mês que passou, este pequeno projecto de um Palavra por muitas Palavras, completou o seu primeiro ano de existência na globo-esfera virtual, ou melhor dizendo, nesta aldeia global, um termo inventado pelo canadiano Marshall McLuhan, e neste tempo que passou muitos foram as palavras, as letras, as ideias que quis fazer passar, mas acima de tudo, tudo o que aqui está escrito, é a tradução simples de muitos pensamentos complexos, e a chamada escrita sem filtros e a busca da criação mais profunda da mente que, por vezes passa apenas naquela vez e já mais se conseguirá tratar do que me passará pela mente naqueles momentos. A análise a estes texto, será a tarefa mais complexa que alguma vez poderá existir para um crítico literário, porque o desvendar de certas matérias aqui descritas só estará ao alcance daqueles que eu permiti que entrassem na minha esfera pessoal e no mais profundo dos meus conhecimentos que eu permiti que estes conhecessem, e este grupo restrito de pessoas é composto, apenas e só, por aqueles que não aparecem nas linhas da frente de batalha, mas sim no apoio das trincheiras, porque por detrás de uma grande vitória em conseguir algo que seja estará sempre um conjunto pequeno de pessoas, que passaram connosco as mais diversas derrotas, até ao ponto em que alcançamos aquela tal vitória que queremos tanto na Vida. Este projecto no ano que passou começou por ser um roteiro, para o livro que venho rascunhando de há uns tempos a esta parte, no entanto com o andar dos tempos deste projecto apercebi-me que, os textos mais lidos são aqueles que são escritos na sua essência mais pura, sem qualquer filtro aplicado para parecer bem à sociedade. Em sinceridade tenho que admitir que, a mim, não me interessa e pouco me importa, se esta página tem um único seguidor ou milhões deles, a mim importa-me que O(A) Leitor(a) retenha aquilo que está escrito, e que pense sobre as palavras aqui rascunhas. Nestes últimos quatrocentos dias, escrevi só aqui mais de noventa e seis mil caracteres o que se traduz numa quantidade total de mais de dezasseis mil palavras, foram quinze os textos publicados, mas fora estes que se encontram ao julgamento público, para mim próprio e para aqueles “alguéns” que têm acesso ao outro estado da arte, foram bem mais de quinze, os textos produzidos, foram bem mais de quinze as memórias que quis que perdurassem no tempo, porque um dia o autor dos heróis deixará de existir, mas as memórias dos heróis e esses mesmos heróis perduraram no tempo e permitirão que, lá no futuro bem longínquo que a Vida reserva a cada um de nós, sejam mais ávidas as memórias desses tempos bem vivido, tal como diria Tales de Mileto
“Quod præteriit, certum est, futurum vero obscurum” “O que passou é certo, o que vai acontecer é desconhecido” (Tradução Livre)
E agora sim vamos lá ao mote deste texto “A Vida através de uma janela …“, o titulo para este artigo surgiu à poucos dias enquanto descia as escadas da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, num passo acelerado para conseguir cumprir todos os compromissos que estavam estipulados na desorganizada agenda, mas foi dessas ideias que vim matutando e falando com os meus botões ao longo de todo um percurso de auto-estrada às altas horas de uma destas madrugadas passadas. Por vezes o ruído dos faróis do carro permite-nos voar em sonhos mais altos, mas sempre com os pés bem assentes na terra e com uma atenção focada na regulamentação do tráfego automóvel; Hoje em dia vivemos na correria do mundo, tudo nos passa com uma velocidade assombrosa, que muitas vezes acabamos muito bem por nem perceber como terá passado o tempo, como já se vai dizendo tudo isto são sinais dos tempos. Mas o Tempo, esse mostra outros sinais de que vai passando, e nada melhor do que olhar para a sociedade de Hoje e ficarmos com algum medo daquilo que será a sociedade do futuro. A crise, este tal monstro que nos rodeia à perto, ou há mais de uma década, não é só económica, é também ela, a crise, um problema social, um problema de ética, ou até mesmo um problema do eter em diferenciação ao Urano.
Na verdadeira acepção do Hoje, em Portugal vive-se num Limbo, aquilo que era noticia à dez anos, é novamente hoje uma realidade, e o que era à vinte, entre idas e voltas, entre as luzes da ribalta das manchetes do jornais de maior circulação e os tempos de antena nas ondas hertzianas da rádio e da televisão, continuam rigorosamente a ser os mesmos; no entanto com o passar dos tempos a sociedade vai evoluindo e vai permitindo algo mais, essa mesma sociedade que aboliu e lutou contra a censura, é a também a primeira a silenciar quem pensa diferente e quem se matem rígido à defesa dos seus valores; mas claro silenciar não é a mesma coisa que censura, basta trocar a palavra e tudo está às mil maravilhas. Mas enfim, é a bela da Nação Portuguesa que temos, ai desculpem-me Nação é termo proibido, dizem ser palavra do Estado Novo, é o belo do “povo” que temos, atenção escrevi Povo, mas claro ressalve-se que já mais quero ofender alguém, e desculpem-me também, mas a réstia de paciência que tenho para “florir” as verdades está reservada para prender a “mola” nos bancos da faculdade, pois dizem as más e as boas línguas que dá jeito, para passar às cadeiras, uma vez que não tenho ascendência ou qualquer nome que me salve a pele na escola das “pseudo” elites, bem o que vale é que “A Luta Continua”, mas o artigo treze da Constituição da República Portuguesa é para pôr à margem se faz favor, que dizem não dar muito jeito nos dias de Hoje, a não ser para tapar as vistas ao célebre do Povo. Ora já que falado cite-se, para que não ávida dúvida persista, e já agora que literem esta sociedade sem classes:
“… Artigo 13º – Principio da Igualdade
1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.
…”Em Constituição da República Portuguesa – 7ª Revisão Constitucional 2004
Caso para afirmar, tanto diz e nada diz , isto para não dizer que o texto constitucional têm estas quatro linhas, mas sua interpretação pelo Prof. J. J. Gomes Canotilho e pelo Prof. Vital Moreira, ambos da escola de Coimbra, ocupa só catorze páginas, mas calma, porque a estas podemos acrescentar mais vinte e duas páginas de interpretação por parte do Prof. Jorge Miranda e do Prof. Rui Medeiros, da escola de Lisboa, em sumula são apenas e só trinta e seis páginas a justificar tal artigo, no fundo lá bem no fundo para que serve tanta palavra e tanta tinta para ninguém cumprir ? Eis a magna questão das coisas.
Mas andando mais um pouco pelas questões que andam novamente pelas bocas do mundo e talvez a mais polémica de todas, dá-se pelo nome de Eutanásia, se contássemos todos os caracteres que se escreveram e publicaram neste últimos meses, talvez tivesse-mos os suficientes para escrever novamente a Enciclopédia da Dinastia Ming, um dos maiores livros do mundo. E com tanto alarido em volta do tema, o cerne da questão acabou por se perder, nesta temática a pergunta principal que salta imediatamente à vista de todos é “Serei eu [ou És] a favor ou contra tal acto de/ da Vida ?”, mas claro esta é só a interrogação que abre o mote a uma panóplia de organizações e pessoas, umas a favor e outras contra a temática, mas a complexidade do tema visa não só esta palavra principal, mas também toda uma sofisticação de termos, que a medicina moderna Hoje nos impõe, não como forma de simplificar a percepção e a literacia, mas sim o inverso, tal iliteracia dos termos eugenia, distanásia, ortotanásia, mistanásia; em súmula terminológica o melhor é mesmo é tirar um curso de medicina para perceber tudo isto. Quando se trata este assunto na áreas médicas soam logo os alarmes nas alas da Ética da medicina, o Juramento de Hipócrates, os valores da medicina devem prevalecer o valor da Vida, mas no meio de tanta complexidade ética para deixar morrer alguém que sofre, parece-me que a Bio-ética da medicina não está contra a hipocrisia da especialidade, luxuosa, da medicina estética (ressalve-se a medicina reconstrutiva que salva Vidas), a mesma Ética que está contra “morrer com dignidade” e “sem sofrimento”, permite que haja alterações no corpo humano que sejam quase contra-natura. Parece-me que a caracterização ética nesta área fica muita aquém de ter um fio ou um linha condutora. Ainda dentro desta temática, e porque somos uma sociedade de raízes católicas importará referir que este simples facto, torna-nos avessos à morte. ao significado da morte, à morte como libertação de algo que nos prende e onde já nada de facto existe a não ser o atroz sofrimento, em tantos e muitos casos. O Estado já criou alguns instrumentos que podem servir de tiro de partida para algo mais, para que o Povo esse possa escolher, mas coloquem-se travões da forma como ouvir o Povo, será feito um referendo ou um plebiscito ? Eis tal questão que deverá ser deslindada antes da tomada de decisão. Para que as pessoas, os cidadãos desta muy nobre nação possam votar com clareza naquilo que querem fazer com a sua própria Vida, dever-se-á ver o Estado obrigado a prestar a literacia e a informação adequada aos seus compatriotas, mas acima de tudo essa informação deverá ser veiculada com total isenção para com as partes prós e contras, agora faça-se nova questão serão as pessoas que compõe as mais altas esferas do Estado, capazes de o fazer e por uma vez na Vida abstrairem-se de partidarismos em prol da unidade de um Povo ? Coloco nesta perguntas tantas reservas, que se algum dia tal existir, então render-me-ei e afirmarei aos quatro ventos dos cardeais, que eu acredito na sociedade ideal, mas serei eu vivo quando tal acontecer ? E os meus netos ?
As nossas próprias janelas colhem tantos frutos quantas aquelas elas conseguirem processar, mas haverá um dia, nesse dia em que, fecharemos as suas cortinas e nos questionamos “terá valido a pena ?” ai será o momento de passar todos os frutos passados àqueles que têm toda uma linha curvilínea e sinuosa para percorrer, pois com Tempo, esse velho amigo da perfeição, os cristais que compõe a transparência dos vidros tendem a ficar cada vez mais baços, chama-se a tal facto envelhecer. O Homem já mais se poderá negar a que um dia a sua máquina parará, não sabendo ele tal facto, do quando e do como e do onde, viverá constantemente interrogado, pois a sua essência da natureza será questionar-se e interrogar-se; muitos considerarão a estratificação como um sistema de justiça ou de igualdade, mas em boa realidade, o instinto animalesco do Homem já mais se desvanecerá e como tal, as ideias utópicas aquando de loucuras poderão ser aquelas que demorarão mais anos a conseguir, mas um dia tal como as maçãs no pomar, um dia desabotoará a flor e daí a fruta ganhará asas e voará desprendendo-se da seiva que a construiu.