a Vida e os Eu’s

Ao longo destes últimos tempos temos assistidos ao fenómeno da bipolarização da sociedade ocidental, da qual dizemos que fazemos parte, mas será democrático dizer em viva voz que todos queremos ser parte integrante desta sociedade que se diz desenvolvida? Seremos uma sociedade tão desenvolvida, que até permitimos o abandono e mau tratamento dos nossos idosos em praça pública? Seremos essa tal sociedade tão desenvolvida que é conivente com os casos de violência numa via publica, seja ela sobre elementos femininos, ou contra a envergonhada na forma masculina? É esta a sociedade desenvolvida que permite a violência física ou psicológica a quando, ainda, do namoro, que geração é esta que se diz desenvolvida? Seremos nós, sociedade desenvolvida, sensível com ás meias-duzias de mortes que surgem nos atentados, mas não somos tão sensíveis com as centenas ou milhares de pessoas que morrem todos os dias fruto de ataques e rides aéreos, em países como o Afeganistão, Síria ou outro qualquer país do Médio Oriente? Qual o valor de uma Vida Humana na Europa em relação a uma qualquer outra Vida Humana num outro país, noutra qualquer parte do mundo, deste que é o único planeta em que conseguimos habitar em todo o universo?

Por vezes dou por mim a pensar, principalmente quando estou sentado numa qualquer esplanada, ou num banco de jardim ou noutro qualquer sítio, seja aqui ou noutra qualquer parte, o porquê de as pessoas comentarem a Vida que lhes é alheia, a Vida que não lhes diz respeito, assuntos que nem de perto, nem de longe, se encontram sobre a sua alçada, ou ao seu alcance, quando elas próprias não reflectem, muitas das vezes, sobres os grandes problemas que têm dentro das suas portas e que mais graves são, na comparação com por exemplo um beijo de um casal em público. Certo é que, estes actos acontecem todos os dias e em qualquer hora. Outro dos reflexos que espelham o meu próprio pensamento é o porquê de muitas vezes as pessoas não olharem ao seu redor e percepcionarem que existe algo em seu redor, para além do eixo que gira sobre eles próprios, e poderá ser este um dos principais factores que contribui para a sociedade moderna em que vivemos. Demasiados “eus” e escassos “nós” ou “eles”, em súmula, a Sociedade deixou de saber o que é o altruísmo, por outro, passou a palavra a ser isso mesmo, uma simples e mera palavra, que muitas vezes até é complexa de ser pronunciada nas vozes que se dizem, ser do povo. E pelo simples facto de as pessoas hoje se importarem tanto com os outros, num sentido tão particular e peculiar, é que vivemos na situação em que vivemos, num olhar distinto em que Todos somos vistos como um simples e mero número, onde há setenta anos Hitler pusera em prática a identificação dos indevidos através de uma tatuagem permanente no braço, hoje, na diferenciação moderna, temos a obrigação de andar com um cartão de plástico no bolso, porque para o Estado somos isso mesmo o cidadão com o número de identificação civil número XXXXX e portador do número de segurança social YYYYY e portador do número de contribuinte (este o mais importante na visão dos agentes do Estado) ZZZZZ, entre outros números que temos que saber de cor, numa sociedade que olha para o outro de lado e não pela frente, numa sociedade que olha para o outro não num sentimento de entre ajuda, mas sim com um olhar de superioridade e não de igualdade, talvez seja por esta hora, altura de repensarmos aquilo que queremos que seja esta fria sociedade, e olhar para a frente e pensar que futuro queremos para nós e para os que a seguir a nós advirão por este que é um caminho que está por ser trilhado, numa aventura que se descobre que caminha a par e passo entre a fé e a ciência, pois ambas não conseguem caminhar sozinhas. Tal como o afirmara no primeiro paragrafo deste pequeno texto indague-se mais uma vez qual o verdadeiro valor de uma Vida Humana, terão todas elas o mesmo valor, ou a Vida de um cidadão Americano vale mais do que a de um qualquer cidadão de um qualquer país europeu, ou melhor comparando, a Vida de um ser humano que nasceu do lado norte da fronteira vale mais do que a Vida de um cidadão que nasceu do lado Sul da fronteira (do lado dos Estados Unidos Mexicanos), ou ainda por outra parte a Vida de um Europeu vale mais que uma Vida Humana nascida em África ou no Médio Oriente? Tantas respostas para uma resposta politicamente correcta:

“Todas as Vidas Humanas têm o mesmo valor, seja ela em que parte for deste Planeta.”

afirmam tantas vezes as vozes dos políticos e diplomatas na Assembleia das Nações Unidas, mas será isto assim tão verdade, quanto a verdade que se diz ser verdade? Se esta afirmação deixa-se de ser politicamente correcta e passasse a ser prática corrente, viveria-mos naquilo a que chamaria ser as condições idílicas, mas como não vivemos em condições utópicas mas sim em condições com as quais compactuamos, o perfeito para nós, ocidentais desenvolvidos, não é a mesma concepção para os povos que se encontram em desenvolvimento, e onde nesses sítios o tão pouco consegue fazer com que sejam tão felizes, aquelas pequenas coisas que nós, já não damos importância pela insignificância que representam e que para eles tanto vale. Mas calma serão eles que têm uma visão redutora, ou seremos nós que já não conseguimos ter um sentimento de prazer pelas pequenas coisas que por vezes nos fazem tão felizes?

Hoje em dia as notícias são geradores de conhecimento de ciência, já não é a ciência que forma as pessoas, são as grandes empresas de comunicação social que formatam os sentidos de voto das pessoas, são os grandes grupos económicos que controlam esses mesmos meios, sem o capitalismos inserido nesses meios, a sua subsistência monetária é falível em todos os aspectos, assim é do interesse daqueles que são accionistas encaminhar e formatar as massas cinzentas das pessoas, que parecem sofrer de demência por já, muitas vezes, não conseguirem raciocinar por elas próprias, as intenções de voto são falíveis; Hoje quem conquista a comunicação social conquista o povo, parece que a politica nos actuais dias vive dos famosos comentários políticos num qualquer dia da semana , onde dizer bem do trabalho de quem está aos comandos do país, parece ser proibido, não falo dos governos de esquerda ou de direita, falo do Governo cujo o principio devia ser zelar pelos melhores interesses para com a nação portuguesa, zelar pelo melhor interesse dos vinte e três milhões de portugueses, daqueles que se encontram dentro das fronteiras e daqueles que embora fora também fazem partes deste povo que consegue ter só para si o sentimento melancólico da Saudade. Mas uma vez que toquei no sensível ponto da Política, referenciar que talvez não saibamos viver numa verdadeira democracia, ora veja-se o exemplo, nos últimos meses aprendemos diversas coisas sobre a democracia, sobre o facto de ir-mos às urnas e não ser espelhar aquilo que foi o veredicto do povo e não falo só do caso português, falos dos diversos casos que se têm visto por esta Europa fora, Portugal, Espanha e mais recentemente o Reino Unido, a final o povo não é ele próprio capaz de aceitar as decisões que a maioria toma, pois caso vença uma parte a outra contrariará e arranjará forma de levar a melhor avante, nem que seja arranjando outras formas de ganhar a maioria, por exemplo deixar de ser uma maioria simples a ganhar, para ser uma maioria qualificada, por dois terços por exemplo, a ganhar, para se sagrar vitoriosa, apenas e só uma parte. Coloca-se em causa, a final o próprio povo não gostas das decisões que a maioria toma? Se calhar o melhor mesmo é viver naqueles tempos em que apenas um simples homem tinha o poder concentrado nele próprio? Sinto-me confuso e já não sei o que pensar sobre esta falaciosa democracia em que vivo.

Com tudo isto, muitas vezes penso no porquê de na generalidade as pessoas não gostarem de ver as outras felizes, no porquê de as pessoas acharem que têm a capacidade de julgar, e de por isso terem o poder de decidir se aceitam ou não os outros tais como eles próprios o são e assim nasceram respectivamente. Terá alguém o poder dizer que aceita ou não aceita o outro? Cada um é como cada qual e as pessoas não têm que formar um julgamento mutatis mutandis sobre tudo, e ao mesmo tempo sobre nada; as pessoas poderão concordar ou discordar com as acções dos outros, mas já mais poderão julgar sobre aquilo que o outro é, da maneira diferencia como pensa, da maneira diferenciada como se veste, da maneira diferenciada como se relaciona com os seus pares, com tanto grave problema que existe na sociedade as pessoas têm mesmo que se debruçar sobre problemas que apenas dizem respeito à Vida intima das pessoas, ou melhor terá o Estado, ou os seu órgãos de decisão, capacidade e razão e necessidade para se imiscuir em coisas da Vida privada que aos pares diz apenas respeito.

No meio de tanta discussão fútil e inútil perdem-se coisas que deviam ser, sim, resolvidas como por exemplo o caso da discriminação nas escolas portuguesas, a adopção de medidas preventivas e punitivas para os mais diversos casos de bulling nas escolas portuguesas, não deveríamos ensinar os nossos jovens a respeitarem-se mutuamente para um dia não haver revoltados, com a prática de crimes e os agressores por serem menores saem impunes aos seus crimes, porque as consequências desta prática de crimes nas escolas portuguesas e não só trazem consequências não só na altura, mas sim para o resto da Vida, será assim tão difícil de perceber que o sofrimento no silêncio das vítimas acaba por ter consequências que nem nós próprios sabemos o que podem trazer e quais as implicações que podem ter no futuro. A resposta a isto é simples, de cada vez que todas estas histórias terminam em suicídio, as pessoas lembram-se que algo deve ser feito, mas passados poucos dias depois das cerimónias fúnebres já tudo passou e o problema deixa de existir, é tão simples, é esta a fútil e hipócrita sociedade em que vivemos todos os dias, é esta mesma sociedade que enquanto vivos tem vergonha de condecorar e galardoar os feitos dos indivíduos mas, post mortem já todos são bons e heróis para pátria e para a civitas.

Para terminar este meu texto, gostaria apenas de dizer que talvez um dia aprenda a viver neste mundo idílico, onde nas aflições Deus é o centro do universo, mas no sucesso deus já não existe nem nada representa, gostaria também de dizer que um dia gostava que as vítimas dos crimes não fossem as culpadas e os culpados as vítimas e os beneficiados deste sistema que se diz justo e igualitário para com todos os que nele vivem, gostaria também neste cantinho aqui há beira mar plantado dizer que aqui sou feliz, sem ter que ser olhado de lado ou comentado pela maneira diferente de pensar ou agir. Como tantas vezes o disse não me importam as estatísticas de quantas pessoas irão ler este texto, nem de quantas o começarão a ler e o irão terminar, importa-me sim que este simples texto escrito por um “zé ninguém” forme uma consciência que possa mudar a forma de pensar para melhor, nem que seja apenas de uma simples pessoa. A mim não me importa o magno, a mim importam-me sim, como sempre me o importaram, os pequenos, mas intensos momentos, e isto agradeço as pessoas que assim o mostraram o quanto os pequenos momentos valem e ficam para a história.

E tu até onde estás disposto ir? Até onde estás disposto para mudar a História, Tua e desta Sociedade em que vivemos?

No entretando deixo aqui uma pequena música, que foi o pano de fundo do programa emitido pela SIC – “E se fosse consigo?”, o qual recomendo a darem uma vista de olhos e a pensarem sobre as reacções que são visíveis no curso dos diversos episódios do programa.

 

Actualização: O presente texto foi alvo de correcção ortográficas às 16:08 UTC do dia 28 de Junho. Lamentamos todos os transtornos causados.