Diz-se que o silêncio é o bom conselheiro da sabedoria, que o silêncio da noite é bom conselheiro, mas por vezes o silêncio pode nos reversos dos bons conselhos ser o porto de abrigo para o perigoso caminho das tormentas, conhecidas e desconhecidas.
O silêncio da voz, a mudez dos olhos e a surdez dos ouvidos, podem ser meio caminho realizado para o aproximar do abismo do planalto da perfeição; tudo isto num Mundo onde o idealismo é virtual e a plenitude uma mero sonho na Vida do Homem. Todos nós temos as nossas maneiras de lidar com as diversas formas do silêncio que numas vezes é nos imposto pela sociedade, outras vezes por nós próprios e outras vezes só porque simplesmente acontece.
O silêncio da minha voz não transcorre o silêncio da alma, do turbilhão de palavras que queria dizer e não posso, tudo aquilo que quero expressar e não o posso fazer, pelos mais diversos sentidos da Vida. Mentiria se dissesse que não me custa estar longe ou perto, ou perto e longe de ti, do outro alguém que surgirá na minha Vida, Hoje tal como ontem a distância é uma coisa relativa nos dias que correm, cada vez mais estamos mais perto uns dos outros, mas cada vez estamos mais longe ao mesmo tempo, vivemos tão imersos e focados num mundo digital, que quando damos fisicamente o passo seguinte sentimos que algo já passou por nós, ou a final as coisas eram diferentes daquilo que vivíamos. Os ideais, as tradições, as histórias do passado, são isso mesmo passado, nos dias que correm o vintage é moda, mas só em alguns aspectos, diria que nos fúteis, talvez devêssemos por também na moda do vintage alguns dos valores que desapareceram com o tempo, não me parece que fosse má ideia. Cada vez ligamos menos ao romantismo, cada vez as coisas são mais banais, não que seja contra as banalidades, por vezes são necessárias de existir, mas não podem é ser tão banais ao ponto de deixarmos de fazer um esforço para que a coisas continuem e para que alcancemos outros voos. Agora um conselho, nunca esperem tempo demais ao ponto de se tornar platónico sem darmos por isso, e acima de tudo não deixem que isso altere a maneira de como são, a maneira de como lidam com as pessoas que vos são próximas porque depois de tudo o que platonicamente passarem serão elas que estarão lá para vos dar o apoio que precisarão, os bons, verdadeiros e leais continuarão lá sempre sem que vocês se apercebam de que nada mudou entre vós.
Já muitas foram as palavras que no silêncio da noite, no frenesim do crepúsculo e nas caóticas rotinas da tarde, passei aqui neste mesmo local com uma das melhores vistas para uma das meninas dos meus olhos, foram desbravadas tanto por estas bandas digitais, como talvez nas centenas de fólios que por aqui já foram desbravados quilómetros de linhas pretas interrompidas pela formação do conjugado das palavras, que unidas formam histórias, formam das formas mais puras de transmitir uma ou mais simples mensagens.
O silêncio entre partes não rege por si só uma obrigatoriedade de silêncio com a escrita destinada à outra parte, silencia apenas a transmissão das mensagens entre os agentes, e é isto que acaba por ser a parte mais dolorosa de toda a história. O silêncio pode ser a maior tortura que se pode aplicar a alguém que seja um homem livre e de bons costumes, porque o silêncio tanto escrito como físico ou emocional, por carregar o maior cumprimento da pena que lhe poderia ser aplicada. Hoje estamos, quem escreve cartas e as envia por correio para o correspondente homólogo, a sofrer do silêncio da resposta escrita que nunca chega, ou que tardará sempre em chegar, mas continuamos a presumir e a ter esperança que um dia a caixa do correio tenha lá algo mais que uma simples factura para pagar qualquer coisa ou um qualquer serviço, por vezes para alimentarmos esse sentimento que com o tempo se vai desvanecendo enviamos missivas para nós mesmo para abrirmos depois num futuro em que já não sabemos o que escrevemos para que aquilo tenha alguma substância no porquê de se o fazer.
Bem o silêncio poderá ser mesmo uma tortura como já o disse, mas por outro lado o silêncio pode ser ser algo positivo e algo benéfico, quando temos aquela confiança e aquele sentimento mutuo pela outra parte, o silêncio pode ser o factor animador de que tudo está normal e não existe problema algum; com o ritmo de vida que levamos hoje cada vez mais temos menos tempo para dedicar àqueles que não sendo da família detemos os laços de fraternidade como se de irmãos se tratassem, mas isto é a lei da Economia econométrica que vivemos e não um problema da Vida, porque eu não acredito que a maioria das pessoas quisesse viver afastada dos outros como actualmente vivemos quase todos; bem pelo menos esta é a minha visão sobre a Vida, mas como sou muitas vezes um idealista e alguém que vive desenquadrado da sociedade tantas vezes, não me admirava que esta seja mais uma das minhas filosofias que esteja desalinhada com os astros da sociedade contemporânea.
Se numa balança conseguíssemos colocar a existência dos prós e contras dos silêncios, em pratos distintos, seria difícil mantermos o fiel tão recto quanto o fio de prumo assume a sua verticalidade, porque nos é difícil destrinçar os sentimentos dos silêncios, e os silêncios dos sentimentos. Tal como no silêncio, é difícil vivermos parte das nossas Vidas escondidos da sociedade que no envolve, bem isto já é outra história, talvez um dia dite essa outra história.