Um talvez ao luar

Já perdi a conta às vezes, aos dias, às situações que me levaram a vir para aqui puramente pensar na Vida, ou escrever aquilo que me ia na alma, de entre todas essas vezes apenas em duas situações estive aqui acompanhado, por isso posso dizer que não raras mas raríssimas foram essas vezes, num universo imensurável.

Hoje vim apenas olhar, não a ponte, não a beleza do luar, nao vim ver o tráfego do porto, vim, apenas vim. É apenas e só mais uma noite de sexta-feira onde as gentes saem, onde alguns se divertem, onde outros alimentam os seus vícios, onde uns têm dois dedos de conversa; aqui, a actividade é exclusiva, a partitura é composta num compasso binário onde uma única clave de sol se afigura, num solo com múltiplas interpretações, não há lugar para o maestro, apenas para o solista que interpretar as notas presentes, de entre o pianississimo e um mezzo piano, dentre a envolvências exterior de um andamento Andantino em contraste com um andamento Vivacissimo interiormente, com alguns sustenidos lá pelo meio caminho.

A verdade essa é demasiado complexa para se perceber; quanto poderia eu escrever sobre isto? 

Tantas seriam as linhas que esgotaria a tinta que alimenta a minha pluma. Porque penso tantas vezes? Por um simples facto, tão simples, mas nos dias de hoje o seu entorno é tão ou mais complexo do que a física quântica era nos finais do século XX.

Sinto que nunca receberei uma ínfima parte daquilo que faço para com o outro; sinto que começo a esgotar as minhas forças; sinto que no fundo não conheço a sociedade de Hoje; sinto-me traído, sinto-me enganado por tantos que pela minha Vida passaram, sinto-me magoado pelas mágoas que me causaram por não serem verdadeiros comigo, por fazerem de mim peão num tabuleiro de xadrez que não é ou era o meu. No fundo, sinto que no meio de tudo tentei ser o amigo que alguns nunca tiveram; sinto que fui para alguns o amigo que eu nunca tive; sinto que falhei com algumas das pessoas que mais me importam na Vida, e hoje reconheço que foram elas que foram os Homens nesta história, porque no fundo souberam perdoar, e Hoje parece que nada se passou, mas, nesta cabeça residem todas essas memórias e, por mais esforço que faça elas não se olvidam.

Outrora as cartas ligavam as pessoas, criavam sentimentos, originavam a espectativas de na volta do Carteiro haver algo; Hoje, talvez já tenha perdido a esperança, de receber na volta do correio aquele envelope que por mais simples que seja, vem carregado de significado, pode ser a coisa mais simples e mais modesta, poderia até trazer uma só frase, mas faria de mim o homem mais feliz que imagino.

Não entendo o Hoje, não consigo perceber o Ontem, mas também não sei o que será o amanhã, recordo-me de uma frase que um dia me disseram

O futuro está para ti, como estará para qualquer um de nós! Espero que…“.

Dizem que da história não rezam os fracos, e o que serei eu? Um vitorioso, ou um fraco?

Depende da perspectiva, mas aos olhos da sociedade actual não passo de um falhado, um fracassado que nunca teve asas para voar mais alto. Talvez o seja…

Talvez amanhã seja outro dia…

Talvez amanhã as coisas mudem…

Talvez um dia conviva com alguém que realmente goste de mim de uma forma modestamente recíproca…

Talvez um dia possa sorrir sem ter medo que naquele dia ou no dia seguinte o riso dê lugar ao choro …

Talvez…

Talvez… isto

Talvez… aquilo

No fundo luto para ter as forças de amanhã ser mais um dia.. seja ele como for

Por agora é tudo,

 

Um totó à beira rio a olhar para uma ponte e para o luar numa noite gélida.

Este é um texto avulso que se publica pontualmente neste espaço, que o autor pensa vir a escrever novamente com alguma regularidade.


Texto originalmente escrito na Avenida de Brasília, Lisboa às 03:17 de um destes dias.