Nau da Bonança – Parte 4 (Final)

O Fim

Dois dias passaram e não havia maneira de ter qualquer contacto com os emissários enviados a Terra!

Sua Graça começava a preocupar-se substancialmente a cada minuto que passava. Com o cair da segunda noite ordenou que todos se reunissem no convés e informou que na manhã do dia seguinte iria ser disparada uma bombarda com um tiro de salva, para que servisse de aviso aos locais.

O sol raiou e a ordem de disparo foi executada. Minutos depois, surgiu movimento na costa e um dos botes zarpou em direcção a Bonança. Chegado o bote à Nau, compareceu no convés um estranho com vestes de ouro reluzente requerendo a presença do Comandante em Terra firme. Ali mesmo teve origem um longo diálogo entre ambos, até que Sua Graça o Duque Domingues, decidiu atender ao pedido formulado. Contudo antes de partir rumo ao desconhecido, chamou o Imediato e entregou-lhe um subscrito lacrado com o cunho da Bonança dando uma ordem directa para só proceder aquela formalidade depois da sua partida.

Honras militares executadas e o Duque zarpou sem mais nenhuma formalidade, deixando os seus homens esperançados.

Chegado a terra firme, o Comandante reconheceu um rosto fechado mas familiar.

Era o Conde Alves que havia partido na esquadra da anterior expedição, até então dada como perdida pela coroa, convidado o Duque Domingues para uma visita ao interior da floresta. Foi nesta altura que o Imediato abrira a carta que dizia:

Devem abrir fogo pela manhã, com todas as bombardas, e zarpar em seguida em direcção ao Nosso Porto. À sua chegada informe El Rey imediatamente e traga toda a Armada para vingar a Coroa! Agora cabe-lhe a si abrir Fogo Sr. Comandante!

No interior da densa floresta, o Duque foi brindado com a traição do Conde, que, ali, se havia tornado Imperador, manipulando todos aqueles locais, como se de seus súbditos se tratassem. O Conde Alves era uma figura extremamente acariciada por Sua Majestade El Rey Eduardo II, mas passado uns tempos do seu não retorno tomara-o como um Inimigo da Coroa buscado por todos os quatro cantos da Terra conhecida.

Com todas aquelas traições o Duque Domingues fingiu-se apaixonado por todas as suas palavras e pedira um momento a sós entre ambos, sem estranhos na sua presença. O Conde concedera tal pedido, num lugar onde tudo parecia andar ao redor num movimento rápido, numa noite profunda onde só se faziam escutar os bichos selvagens.

Breves momentos depois o Conde desembainhou a espada, e num surto de raiva platónica, atingiu o coração do Duque de maneira atraiçoada. Sem reacção o Duque apunhalado pelas costas agoniou até ao seu último segundo.

Antes mesmo de dar o seu último suspiro Sua Graça o Duque Domingues disse ao Conde:

A traição é o teu melhor dom, mas já mais esquecerás ter passado pela minha Vida e jamais me esquecerás, até ao leito da tua morte!”

e deu o seu último suspiro de agonia.

Com a morte do bravo Duque , El Rey decidiu que todo o rumo do seu reinado deveria ser alterado para honrar esta história.

Bonança abrira Fogo e destruíra parte daquele local inóspito zarpando em seguida para se cumprir a vontade do seu Comandante, rumo novamente ao inesperado e ao desconhecido das tormentas.

FIM

Este texto constitui-se como um inédito e não um acontecimento com validade histórica, nem relata qualquer acontecimento com relevância na História de Portugal ou de qualquer outro país. Por favor considere que todas as semelhanças com algum caso real serão mera coincidência factual, sendo esta uma obra ficcional inspirada na sociedade moderna, mas não em casos reais.